quarta-feira, 10 de junho de 2009

Para que serve o celular?

É comum os jovens ouvirem de seus professores que devem manter seus telefones celulares desligados enquanto estiverem na sala de aula. Afinal, celular serve para conversar, para distrair o aluno. Portanto, não pode estar ligado durante as atividades na classe. Depois de anos procurando incorporar os computadores nas atividades de ensino, e ainda sem se ter exatamente um resultado que possa ser considerado satisfatório, os professores e educadores se veem diante de novo desafio: os celulares tornaram-se a paixão dos jovens. Recente pesquisa da Universidade de Navarra, Espanha, patrocinada pela Telefônica, apresenta resultados muito claros em relação ao uso dos celulares pelas crianças e adolescentes. Nada menos que 82% dos entrevistados afirmaram possuir um telefone celular. Entre as crianças, 45% conseguiram um aparelho como presente. Caso esse dispositivo servisse apenas para se comunicar, e assim ainda é visto por muitos educadores, poderia ser difícil imaginar para ele um uso pedagógico interessante.
Mas o fato é que esses pequenos aparelhos estão sendo usados para tantas outras coisas que o difícil é não imaginar muitos usos pedagógicos que poderiam ser propostos não apenas em sala de aula, mas sobretudo em atividades extracurriculares. Assim, fazer fotos e gravar vídeos, enviar e receber arquivos via bluetooth ou praticar jogos educativos mereceriam espaço em qualquer atividade educacional. Mas talvez seja mais interessante mencionar as recentes inovações que em breve devem estar ao alcance de qualquer aparelho. Pesquisas realizadas pelo Mobile Lab Experience, do MIT (http://mobile.mit.edu), apontam para uma sinergia cada vez maior entre pessoas, lugares e informações. O aspecto urbano aqui é de grande importância. De fato, as tecnologias de comunicação ainda são vistas como meios que vencem distâncias, e portanto como meios que fazem a economia do espaço. O virtual sempre foi denunciado como o “lugar” que afasta as pessoas do convívio, do relacionamento, que mantém os jovens isolados.
Portanto, que nos distancia dos relacionamentos no espaço físico. Pois as recentes experiências com dispositivos móveis revelam justamente outras possibilidades, que apontam para o sentido oposto dessa preocupação: como integrar as pessoas em seu espaço urbano, fazendo justamente uso das tecnologias móveis?
Nas pesquisas do Mobile Lab, o importante não é apenas o tipo de projeto realizado, mas o esforço em estabelecer um novo paradigma para as tecnologias da comunicação: elas podem servir para que as pessoas façam um uso inteligente do espaço onde vivem, que possam integrar seus hábitos e atitudes num coletivo inteligente, que pensa a favor do lugar em que vive. As redes sociais, tão famosas entre nossos jovens, são utilizadas para que as pessoas se organizem e compartilhem seus carros, por exemplo, para ir ao trabalho. São também utilizadas para que, com o uso do celular, você possa consultar seus amigos sobre uma tarefa que esteja realizando. Pode também instalar um software de Pegada Digital, e saber como anda sua emissão de carbono na cidade. De exemplos que vão da redefinição dos pontos de ônibus, como terminais digitais, até o tagueamento de lugares históricos, um número enorme de possibilidades se abre com o uso dos dispositivos móveis para a educação. Enquanto nos preocupamos em dar acesso à internet aos nossos jovens, essas pesquisas apontam para como reinserir os jovens nos problemas do espaço urbano via redes de comunicação.
Rogério da Costa é filósofo,
professor de pós-graduação
no Programa de Comunicação
e Semiótica da PUC-SP,
coordenador do
Laboratório de Inteligência Coletiva LInC .